terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Ensinar RPG não é mestrar para iniciantes

Resolvi escrever esse artigo após ler uma série de reclamações dos "antigos RPGistas" em uma famosa comunidade de RPG no Orkut.


A maioria dos RPGistas da "velha guarda" reclama que o perfil dos jogadores de hoje é outro. Dizem que a maioria confunde o bom e velho RPG com videogame, ou que influenciados pelos animes violentos ao estilo "Dragon Ball", tudo o que fazem em uma mesa de jogo é atacar o que se mexe.


Não lhes tiro a razão, mas de quem é a culpa? É das editoras que não investem no RPG? É dos próprios jogadores que não se dão ao trabalho de ler os livros? Ou é dos antigos e bons Mestres, aqueles que entendem o que é ou não RPG, que não aceitam jogadores novatos em suas mesas? Ou que quando aceitam, simplesmente se revoltam com o resultado catastrófico e desistem?


A garotada viciada em mmorpg e assídua consumidora dos animes "enlatados" tem um padrão de divertimento que não valoriza a história, e sim a competitividade. Para eles, RPG é matar os monstros, subir de nível e colecionar o resultado da pilhagem. Eles não possuem uma outra referência. É culpa deles que não tiveram acesso a um exemplo diferente? Ou daqueles que se recusam a mostrar novos horizontes?


Quantos de nós já mestraram para iniciantes? E quantos começaram a explicação do jogo com a frase: "isso não é como videogame"? Quantos de nós estão preocupados com algo além de nossas aventuras, ou mais especificamente, com os jogadores? Com suas expectativas, preconceitos, etc.? Quem costuma começar uma aventura ou crônica conversando com os jogadores sobre o clima e objetivos da mesma, inserindo eles no clima do jogo, na realidade do cenário, e nas peculiaridades de seus personagens?


É muito fácil criticar quem não tem acesso ao "contar histórias" do RPG, mas o que você já fez para tentar mudar isso? Da próxima vez que mestrar para iniciantes - e eu torço para que você faça isso regularmente - dispenda algum tempo conversando com eles. Explicando como é o jogo, não apenas as regras, mas o tipo de história que você pretende narrar. Todo bom Mestre sabe o que é a alma do RPG, sabe o que pretende com aquela aventura ou crônica. Basta se dedicar a ensinar isso aos seus jogadores, a criar expectativas neles, a romper preconceitos - no sentido de concepções equivocadas.


Aposto que sua próxima "mestragem" para iniciantes vai ser tão construtiva e gratificante quanto a minha última foi.


 

15 comentários:

  1. Finalmente alguém que vê o "problema" do mesmo modo queeu vejo. É por isso que eu escrevi, não faz muito tempo, "se vc quer que o rpg cresça ensine um cara novo a jogar".

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  2. Se por um lado, eu concordo que as editoras têm o seu papel na (falta de) divulgação do RPG, muitas vezes a simples leitura de um livro não é suficiente para alguém captar e abstrair o clima do jogo. Muitos de nós aprenderam a jogar jogando, não lendo livro. Ter propaganda ajuda a divulgar o livro, ajuda o mercado... mas a qualidade das mesas é responsabilidade dos mestres.

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  3. Os avós de meus avós vieram de Veneza. Lá, eliminou-se o problema que existia em ensinar arqueirismo: o treinamento de um bom arqueiro começa com o tratamento de seu avô ainda criança. Em Veneza o treinamento em arqueirismo era requisito para a cidadania durante o século XV.

    Olha que bacana, quem me ensinou isso foi um RPG e não meu avô - que se preocupou em dizer o nome, apontar o sangue, mas não a essência. ^^

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  4. É isso aí ^^

    Pedi pro Valberto colocar a entrada do blog dele aqui, porque esse assunto é muito importante para deixarmos passar batido.

    Agora só falta aderir à campanha "Você já ensinou alguém a jogar RPG esse mês?" XDD

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  5. Olá,
    gostei muito do artigo, e da discussão que ele gerou.
    Ainda este mês, estou mestrando uma campanha de RPG para um grupo de jogadores que NÃO é iniciante, mas também que tem muito apego à alguns dos maneirismos que você citou.
    O fato de serem todos mais velhos do que eu, e quase todos mais antigos nas mesas de rpg, faz com que fique difícil contornar certos problemas, como a ânsia do pessoal por enfrentar monstros em detrimento por viver uma grande história.
    Nem sempre é fácil.
    Só conseguir a atenção dos jogadores exige esforço, pois sempre tem algumas piadinhas, ou mesmo assuntos externos (o último epsódio de Naruto... >.<) que tira a concentração de todo mundo na mesa...
    Mas nem tudo isso é ruim, é bom lembrar que são as improvisações descabidas de um jogador iniciante, ou as piadas com referências externas, que são as sacadas mais legais e que se tornam as cenas "épicas", as lendas lendárias de uma mesa de rpg, e que são justamente elas que fazem com que os jogadores se lembrem com carinho e alegria de uma crônica. A gente precisa lembrar que quem mestra está oferencendo algo muito mais do que está recebendo, né? ^-^

    Abraços. ^-^

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  6. Concordo com a Graci que aprendemos a jogar jogando. Eu aprendi assim, depois que fui me meter a ler os livros. É complicado aprender sozinho, sem jogadores ou mestre mais experientes.

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  7. É mesmo... ^^
    Não da pra imaginar como vai ser até você sentar numa mesa e jogar... XD

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  8. Eu estou mestrando RPG para o grupo de iniciantes e fico feliz que o que menos atraem eles é o combate.

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  9. O problema não está no combate, e sim em reduzir o jogo a isso. Essas discussões têm me inspirado XDD...

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  10. Além de que geralmente os combates, em alguns sistemas, tomam um tempo ENORME e só representam um pequeno intervalo.
    Isso, pra mim (e quando são umas 4h da manhã e estou morrendo de sono), é desestimulante uma vez que estou ali para me divertir com meus amigos (o que geralmente significa várias piadas e conversas fora de jogo).
    É mais fácil o "combate" apontar-e-clicar do que o rolado, e isso que pra mim é uma das diferenças essenciais entre um MMORPG e um RPG.

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  11. Verdade, muitas vezes os combates ficam maçantes... mas o importante é diversificar

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  12. Genial seu artigo, creio que isso levara todo o mundo rpg a um patamar maior começando pelos mestres que teem o trabalho mais dificil isso não facilitara mais sera mais gratificante.
    Confeso que cometi todos os erros que ali foram criticados, ja estava planejando ensinar a iniciantes, e eu diria isso: "rpg e como um jogo...", afinal e com os experientes que se aprende, tenho apenas 15 anos, aindo não comecei a ensina-los a jogar mais me sinto mais gratificado por essa luz, eu antes desse artigo pensava, o problema e o jogador, depois que o problema e que as pessoas não tem acesso a informações como essa (que precisavam ler um livro), agora agradeço-lhe muito por essa luz, mais me sinto decepsionado comigo mesmo pois sei agora que a culpa e minha.
    Agora chegarei la e direi "rpg não e igual a um jogo..." darei o maximo e muito mais não disitirei ate tirar esse pensamento da cabeça deles.
    Adoraria falar com voce ( gracilariopsis) eis mau msn: gabrielrpg_mestre@hotmail.com
    Aqui se despe de o Mestre "Era uma vez".

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