quinta-feira, 29 de março de 2007

O que é (e o que não é) RPG?


Recentemente, na lista de discussão da Ludus Culturalis, surgiu uma discussão visando a criação de uma definição de RPG. Após ler várias discussões, eu cheguei em uma definição:


 


RPG: "Atividade onde os participantes interpretam seus personagens sob regras pré-definidas visando, no decorrer da mesma, a construção das histórias individuais de cada personagem, e da história compartilhada pelo conjunto de participantes."


 


Há uma grande discussão sobre quais os limites entre RPG e outras atividades. Há pessoas que não consideram certos Live Action como RPG. Há pessoas que não consideram Barão Munchausen um RPG. Existe ainda a problemática dos jogos sem ficha e sem testes que acontecem via orkut e fóruns. Vou expor a minha opinião, colada diretamente da lista de discussão da Ludus:


Eu já fui narradora de Live Action. Quais os motivos para não considerar um Live Action como sendo RPG? Ele tem regras pré-definidas, tem narradores e jogadores, e muitos têm até um fator de aleatoriedade em suas regras (embora eu não acredite que a existência de um fator de aleatoriedade seja pré-requisito para a existência de um jogo de RPG). Ele possui sessões de jogo, e outras tantas características de RPG.


Quanto ao Barão Munchausen, eu nunca joguei, mas pelo que já ouvi falar sobre o jogo, também há narradores e jogadores (embora haja uma alternância nesses papéis). Há regras bem definidas, e o objetivo é a construção de uma história.


Quanto aos grupos de interpretação livre de personagens que surgem em orkut e fóruns, o limite seria mais tênue... tão tênue que pode colocar os puristas de cabelo em pé. Mas imaginemos um cenário qualquer para analisar. Quando um "jogador" faz um personagem para entrar nesses jogos, ele o faz segundo um conjunto de regras, e de acordo com a lógica do cenário. Ele não vai fazer um criador de Pokemons num jogo de Rebelde, nem um bruxo adolescente num cenário de Malhação. Também não é esperado que ele seja uma patricinha do início do século XXI num cenário de japão medieval. Dentro do conjunto de regras, espera-se que ele interprete seu personagem de forma coerente... e também existe uma maneira, que faz parte desse conjunto de regras, de definir qual o vencedor de uma disputa ou se alguma coisa pretendida foi ou não bem sucedida. Pode até não haver um único narrador, mas existem momentos em que cada participante assume esse papel, enquanto em outros momentos ele é jogador. Muitas vezes esse conjunto de características é tão intuitivo e consensual, que dá a impressão que nada disso existe... e o jogo com as regras mais simplificadas que poderiam existir é rotulado como não sendo RPG.


Também não estou dizendo que toda interpretação livre é um jogo de RPG. No passado, eu escrevia contos em grupo, em um fórum de anime. Os famosos "continue a história". Nesses casos, não se trata de RPG porque uma pessoa, na sua vez, manipula todos os personagens e o cenário, na construção daquele pedacinho da história, sem interagir com os outros participantes. Ele só interage com a história.


Além disso, se não existe um conjunto de regras mínimas em um suposto RPG, se eu posso entrar com um super-vilão em um jogo de malhação, e o que eu tentar fazer eu consigo automaticamente, sem que haja uma forma (dados, testes, ou simplesmente a palavra de uma pessoa) de avaliação de sucessos e fracassos (como parte integrante das regras) eu não consigo ver isso como RPG. É no máximo interpretação de personagens com finalidade lúdica, tão estruturado quanto brincar de faz de conta.

2 comentários:

  1. Bem, sob o mesmo logus eu poderia não considerar o D&D o RPG pela excessiva semelhança com Wargame. Não é assim que funciona.

    Munshausen é RPG, não importa o que esses caras que se escondem digam. Para mim, as regras nem precisam ser pré-definidas, as melhores sessões surgiram do puro ato de contar histórias. "Saindo da névoa do fim de Termidor, Francine rasga seu vestido em um galho seco. Ela não deveria estar ali, por que olhar, masi importante... para quê?" e minha interlocutora: "Oque?" e eu continuei: "a fala mal passou de um suspiro, o lodo já cobria seus tornozelos, Madam Sirad a estrangularia quando retornasse, mal sabia ela o que aguardava na ponta de um galho." e a interlocutora nessa já repara que você está narrando algo e entra na brincadeira: " 'E se fosse a própria Madam?' Pensava Francine assustada, que ela a cutucava com galhos, quando ela se escondia de suas palmatórias nos arbustos. Francine decidiu simplesmente seguir em frente e não medir com os olhos a razão daquele galho estar tão deslocado de seu tronco."

    Note que não houve regra ai, mas há interpretação, para mim e o jogo entre Chorozon e Morpheus em Sandman #4 Hope in Hell já são RPG: Jogos de Representação.

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  2. Somente uma coisinha, Kaichkull. Ninguem lá "se esconde". É uma lista onde a opinião de todos é respeitada, incluindo a Graci. Se vc não quer ouvir a opinião de ninguém é um direito seu, inclusive pode até participar de nosso livro depois, aliás, espero sua contrbuição, Graci!

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