Essa é uma pergunta
que eu sempre me faço, e cuja resposta é bem complicada. É normal
jogadores de RPG gostarem de ler e escrever, terem um perfil mais
“nerd” ou “geek”, e adotarem uma filosofia de vida baseada em
paçoca e bacon. Mas isso não é o que os define.
Conheci o RPG pouco
antes do ano 2000, de um jeito que muitos jogadores de hoje torceriam
o nariz: comecei a frequentar eventos de anime, e por meio desses
eventos, conheci um grupo de tradução de anime, bem no estilo otaku
fanático daquela época (devo lembrar que isso foi antes de existir
o Anime Friends, então os otakus de antes eram diferentes dos de
hoje). Eu sempre fui meio maluca, e quando criança, sonhava com o
dia em que os mangás seriam publicados em português, seguindo o
sentido original de leitura. Imagina como eu não vibrei quando isso
começou a acontecer? E enquanto estava nesse grupo de anime, fui
apresentada ao fantástico “Vampiro A Máscara”. Era um pdf da
segunda edição, que eu devorei com voracidade. Então, por
intermédio desse grupo, fiquei sabendo que haveria uma mesa do tal
do Sistema Daemon, e pedi para ir assistir o jogo, uma vez que eu
nunca tinha sequer visto como era, só imaginava. Seria um cenário
medieval de baixa fantasia semi-histórico com toques do mito do rei
Arthur, eu não conhecia o mestre, nem a maioria dos jogadores. E no
dia do jogo, one-shot, um dos jogadores faltou. O mestre olhou para
mim com aquela cara de sádico e disse: você vai jogar. Eu quase
entrei em pânico mas aceitei. E por questões de simplicidade, ele
me deu um bárbaro, um personagem grande, bruto, com mais de 2 metros
de altura e um machado. E eu joguei. Fazia sempre as peças de teatro
no colégio, e depois disso, eu já era cosplayer em evento de anime.
Interpretar nunca foi problema, embora no geral, eu sempre tivesse
sido tímida. Joguei e do alto dos meus 1,52m de altura, tive de
virar um monstro de 2m que apesar de ter um bom coração, adorava
assustar criancinhas e outras pessoas para manter a fama. Joguei e no
final da partida o mestre disse: “Tem certeza que você nunca jogou
RPG antes? Não tá mentindo pra mim, tá?” Eu me senti bem com
isso. A imagem mental que eu tinha criado sobre o RPG estava correta.
Mas este mestre estava estudando fora de São Paulo, e eu nunca mais
tive contato com ele.
Pouco tempo depois, o
mesmo cara que tinha me convidado pra jogar essa mesa, me chamou pra
jogar com ele narrando. O jogo era Caçadores Caçados. Ele não
narrava bem. Eu não gostei. Tentei mais uma vez, dessa vez Vampiro a
Máscara, com uma outra narradora do grupo de anime. Também me
decepcionou. Pensei: se quer que algo seja bem feito, faça você
mesma. Comecei a comprar livros, inicialmente de Vampiro a Máscara.
Li a terceira edição, e menos de 6 meses depois de começar a
jogar, eu já estava narrando. Não posso dizer que estava
satisfeita, mas para mim, os jogos estavam melhores do que os com os
outros narradores que tive de Mundo das Trevas. E minha “carreira
RPGística” começou aí. Larguei o grupo de anime mas não larguei
o RPG.
Ao longo de todos esses
anos, tive e conheci jogadores de todo tipo: nerds, devoradores de
livros, góticos viciados em live action, otakus, mas também pessoas
que odeiam ler, mal sabem escrever, não fazem questão de aprender.
Pessoas com todo tipo de gosto musical, com e sem religião, das mais
diversas religiões e ideologias. Tatuados e engravatados. Veganos e
carnívoros inveterados. Todo tipo de gente, com os mais diversos
passatempos, de repente é atraído pelo RPG.
O que essas pessoas tem
em comum? O que eu percebi é que todo mundo que joga RPG porque
gosta (não para acompanhar um amigo por exemplo), é uma pessoa
criativa. Alguns mais, outros menos, mas são pessoas sonhadoras, que
gostam de deixar de lado os problemas da vida real e viajam pra longe
enquanto estão ouvindo uma música, vendo um filme, lendo um livro.
São pessoas capazes de abstrair, criar um cenário mental, pensar em
causas e consequências.
Quando eu fiz
magistério (oh, faz tempo) aprendi um pouco sobre a Teoria Cognitiva
de Piaget. Segundo essa teoria, todo adulto deveria estar no estágio
Operatório Formal e não precisar mais do apoio do mundo material
para criar deduções lógicas. Mas na prática, sabemos que não é
todo mundo que atinge completamente esse estágio. De certa forma, a
maioria das pessoas acaba ficando presa a um ou outro aspecto do
período anterior, o Operatório Concreto, dependendo ainda de apoio
de objetos concretos para várias coisas. Também existe uma
tendência a jogadores de RPG serem pessoas mais inteligentes que a
média, capazes de pensar rápido.
Mas é claro, que nem
todo mundo que é criativo, tem raciocínio abstrato e pensa rápido
vai gostar de RPG. Então, a que conclusão chegar?
Que não existe uma
droga de perfil de jogador de RPG. Eles tem em comum certas
tendências, que não são exclusivas nem nada disso. Ser jogador de
RPG nem funciona como nicho...
Viemos de muitas
origens, temos muitos gostos, temos algumas características que se
repetem numa maioria. Mas não dá pra rotular o jogador de RPG.
Talvez a única coisa que todos tenham em comum é a capacidade de
rir das mesmas piadas internas.
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Este post, como tantos
outros no meu blog, trata de opiniões pessoais. Você tem o direito
de pensar diferente, e eu me coloco no direito de deletar qualquer
tipo de ofensa à minha pessoa caso você discorde de meu ponto de
vista e não saiba argumentar sem jogar pedras.
Adorei Graci, pois é a gente se encontra em algumas experiências comuns hehe e as piadas internas são ótimas rsrs
ResponderExcluirEstou lendo seu Blog e em varias postagens percebi vc reclamando das suas experiências com seus primeiros mestre, fora esse que viajou para São Paulo, mas qual seria a sua definição de um mal mestre vc poderia fazer uma postagem enumerando esses adjetivos. Suas postagens são muito interessantes, parabéns pelo trabalho realizado aqui...
ResponderExcluirMau*
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