Como eu posso ajudar o RPG?

Vira e mexe aparece alguém nesse meio RPGístico com uma ideia mirabolante a fim de salvar o RPG de um fim inevitável ou um futuro negro iminente. E logo, a pessoa está cercada de seguidores com o mesmo ideal. Mas eu me pergunto: salvar o RPG é necessário? E com essas suas iniciativas empolgadas, a pessoa está mesmo fazendo alguma coisa?

Vamos começar pela dura realidade, que não entra na cabeça de alguns: RPG é um passatempo para poucos. Seja por causa dos custos, pela necessidade de ler bastante, ou pelas características únicas como jogo de contar histórias, o RPG é e sempre será uma atividade restrita. Para gostar do jogo, a pessoa precisa gostar de ler, gostar de contar histórias e ser criativa, requisitos que uma parcela mínima dos brasileiros possui.

Mas o RPG pode ser usado nas escolas para melhorar essas coisas que você citou aí em cima, Graci...

Pode, mas não é a única ferramenta. Existem outras alternativas que podem ser usadas na escola também. E o que me preocupa é que o uso do RPG na escola como ferramenta pedagógica, se não for feito por profissionais da educação, pode causar efeito contrário nas crianças e adolescentes: causar repulsa, torná-lo algo idiota, relacionado à escola, coisa de nerd... e... tadah! Temos uma horda de odiadores do RPG formados em nossas escolas. Tudo isso por causa de uma iniciativa de alguém que queria aproveitar os (inegáveis) benefícios do RPG na escola e não estava preparado para isso. A intenção era boa, mas funcionou?

Eu vou criar um grupo revolucionário, nunca antes no Brasil algo assim aconteceu, você vai ver, alga!

O Brasil é muito grande, e os RPGistas, muito diversificados. Grupos e iniciativas que dão super certo em algumas cidades não dariam certo em outras. Brasil afora, temos muitos casos de sucesso. Só para citar alguns, temos o RPG no Bob's, o Saia da Masmorra, o RPG4N. Todos esses são eventos regulares, organizados por grupos que não se julgam nem se pintam como salvadores do RPG. E o que esses eventos pequenos, criados por grupos pequenos e locais, tem em comum? Eles funcionam! E os criadores não se gabam de serem salvadores do RPG. Mesmo assim, os eventos pequenos trazem novos jogadores, diversificam cenários, reunem RPGistas “das antigas” com iniciantes.

Eu tenho uma grande resistência em unificar, porque as pessoas são diferentes em cada canto. As prioridades, os jogadores, as particularidades. Em cada cidade, grande ou pequena, do Brasil, a realidade quanto à aceitação do RPG, os perfis dos jogadores, a disponibilidade ou não de espaço para eventos, é diferente. Um grupo unificado, nacional, teria diretrizes e objetivos únicos. Será que o que funciona no Rio de Janeiro funcionaria em Ouro Preto?

Mas unidos somos mais fortes...

Será mesmo? Eu acho que não. Eu acho que quanto mais gente, mais regras, mais burocracia, mais haverá um distanciamento entre as pessoas que querem fazer e as que querem aparecer e mandar. A alguns anos, eu ajudava a organizar a versão paulistana do RPG no Bob's. A distância física entre a gente aqui em sampa e os organizadores no Rio de Janeiro atrapalhava. Nós não tínhamos o mesmo apoio do gerente do Bob's que o pessoal do Rio, e logicamente, os organizadores do RJ, os criadores da ideia, queriam um retorno. Faziam perguntas. Comparações eram inevitáveis. O RPG no Bob's funcionava lá e não aqui. Com a necessidade de saída do organizador principal aqui em São Paulo, eu decidi que não continuaria o trabalho, e o evento “morreu”. Mas já tinha morrido antes. Foi uma tentativa de aplicar aqui um modelo que dava certo em outro estado, e trabalhar junto com o pessoal de outro estado. Não funcionou. Unidos nós somos fortes mesmo? O Bob's que usávamos para o RPG no Bob's é até hoje um ponto de encontro informal para RPGistas. A iniciativa funcionou como forma de fixar o local para jogos, mas fracassou como projeto “RPG no Bob's”.

Mas o que eu faço então?

Aí é que entra a parte legal: você não precisa fazer algo grande para salvar o RPG! O RPG não precisa ser salvo. Enquanto houverem jogadores interessados, o jogo não vai morrer. O que você pode fazer, entretanto, são coisas pequenas e locais, para incentivar novas pessoas a jogarem. Entre elas, estão:

• Crie mesas para jogadores iniciantes, ou vagas para iniciantes em suas mesas. Esse é o primeiro passo. Mas tome cuidado, se um amigo seu não demonstrar interesse pelo jogo, não o incomode. Ele não quer, direito dele. Insistir pode te dar a fama de chato e fanático.
• Leia um livro de RPG em público. Quando te perguntarem que livro é aquele, fale brevemente sobre o RPG. Se a pessoa demonstrar interesse, convide para jogar ou para fazer parte de uma comunidade de RPG local.
• Traduza e disponibilize material sobre RPG que esteja sob licença que permita isso.
• Crie material inédito de RPG.
• Mantenha contato com as editoras de RPG. Dê sugestões, mostre interesse, colabore.
• Faça parte de um grupo local, ou reúna amigos com as mesmas intenções que você e crie um grupo. Ele não precisa ser uma organização formal, muito embora talvez, se vocês se empolgarem mesmo, talvez seja necessário no futuro registrar a sua associação. Você e seus amigos podem entrar em contato com lojas, bibliotecas e organizações culturais para a realização de mini eventos, gratuitos. Não há coisa que chame mais a atenção de novos jogadores ou tire de dentro de casa os jogadores antigos que mini-eventos.
• Leve o RPG para outros eventos que tenham público que possa interessar, mas não imponha.

O que eu não devo fazer?

Você não deve entrar nessa por renome, nem para aparecer, ficar famoso, se tornar um mártir. Esqueça disso. RPG é o seu passatempo, não uma luta. Não é uma bandeira a ser defendida. Não se torne um guerrilheiro fundamentalista ou fanático em prol do RPG. Não imponha as suas vontades. Não imponha os seus pontos de vista. Não se coloque num pedestal. Não seja chato. Se alguém te falar que tem uma ideia revolucionária, que vai salvar o RPG, que todos devem participar porque é a única coisa que vai dar certo, ou qualquer tipo de delírio megalomaníaco e quixotesco, o melhor a se fazer é deixar a pessoa falando sozinha. A não ser que você também esteja querendo entrar nessa pelo status.

Mas antes de fazer isso, pense nos vários grupos e associações de RPG que já existiram no passado e foram dissolvidos, e pense também nos grupos e associações informais ou não que existem hoje e dão certo. Qual a diferença entre os grupos do passado e os de hoje? Por que um grupo informal dura anos e mais anos, e uma associação formal revolucionária acaba caindo logo? Algo a se pensar, não é?

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Este post, como tantos outros no meu blog, trata de opiniões pessoais. Você tem o direito de pensar diferente, e eu me coloco no direito de deletar qualquer tipo de ofensa à minha pessoa caso você discorde de meu ponto de vista e não saiba argumentar sem jogar pedras.