De vez em quando me perguntam o que é
necessário para começar a mestrar. Em sua maioria, as pessoas que
perguntam moram em cidades pequenas, sem acesso a um grupo, e todo o
contato que possuem com RPG é pela internet. Nunca tendo tido contato
com RPG de mesa, elas tem medo de não conseguir mestrar direito. Eu
tenho algumas dicas para ajudar quem está nessa situação, sem acesso a
uma mesa de jogo, e querendo começar uma.
A primeira é talvez a mais importante:
conhecer bem o sistema de regras e o cenário escolhido. Isso significa
não apenas ler o livro, mas principalmente estudar essas regras e o
cenário. Isso te dará segurança, pois invariavelmente os jogadores irão
tentar fazer várias coisas diferentes daquilo que você tinha planejado
para a sessão. Essas coisas vão desde tentar improvisar – e você vai ter
de saber bem as regras para ver se o improviso é válido ou não – até
sair totalmente do “caminho” planejado – e você vai ter de conhecer bem o
cenário para narrar de improviso o que eles encontram. Nesse sentido,
eu recomendo começar a narrar com um sistema e cenário já existentes. É
muito difícil criar um sistema e cenário próprios, e para que suas
criações funcionem, você deve ter um bom conhecimento prévio de vários
sistemas e cenários. Então, para começar, o mais seguro é pegar um
sistema e um cenário que outras pessoas já testaram com sucesso.
Sem a possibilidade de jogar algumas mesas
para ver como aquelas coisas escritas nos livros funcionam na prática, é
recomendável jogar ou pelo menos ler e acompanhar alguns jogos por
fórum, chat, skype, etc. Apesar de não serem exatamente como o jogo em
mesa, eles funcionam bem para ter um primeiro contato, para ter ideias, e
principalmente, para diferenciar um jogo de boa qualidade de um jogo
ruim. Jogando você percebe algumas coisas que devem ser evitadas, que
não estão exatamente escritas nos livros, e também você consegue
aprender várias coisas legais para serem usadas.
Por fim, graças ao Youtube, muitas pessoas
disponibilizam trechos de suas mesas. Eu fiz uma busca e me horrorizei
com a quantidade de mesas ruins postadas (e o que é pior, o povo achando
que está mandando bem). Mas de tudo o que eu vi tem uns bons exemplos, e
deles, selecionei dois vídeos que mostram bem a parte interpretativa
das mesas, e um outro que é um trecho mais focado em combate:
Quando eu comecei a narrar, eu não tinha
jogado mesas excelentes. Minha primeira mesa foi boa, as outras foram
muito fraquinhas. Eu já jogava um pbf, que era muito bom. Foi inspirada
nesse jogo por fórum que eu me decidi que ia narrar. Posso dizer que os
jogadores – e o narrador – que eu conhecia ficaram surpresos, pois não
estavam acostumados com um jogo mais sério. Logo eu estava entrando em
contato com outros mestres e outros jogadores, ampliando minha “teia
RPGística”. Naquele tempo os sites de RPG eram poucos, não existia
facebook, a dificuldade para se encontrar jogadores era bem maior. Hoje
em dia as coisas estão mas fáceis.
Em uma cidade pequena, a pessoa que quer
jogar RPG tem mais dificuldades. Às vezes não existe
outro jogador por
perto, nem eventos de RPG para experimentar uma mesa. Então, a melhor
maneira de começar um grupo é mestrando para seus amigos, chamando
pessoas que você acha que se interessariam. Pode ser que nesse primeiro
grupo formado, um ou dois jogadores se interessem a ponto de virar
mestres. E aí essas pessoas chamarão mais gente, e você terá condições
de jogar também. Conheço várias pessoas que começaram a jogar RPG
narrando. Se você pensar bem, os primeiros narradores de RPG no Brasil
eram pessoas que viajaram para o exterior e lá tiveram contato com o
jogo. Não foi um contato muito grande, para torná-los jogadores
experientes. Mesmo assim eles tiveram coragem de trazer o jogo para o
Brasil. Leram os livros, se prepararam para mestrar, convidaram os
amigos. Exatamente a mesma coisa que você pode fazer. O que diferencia
essas pessoas de você? Elas tiveram coragem e foram em frente!
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